quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

A alegria triste

Pedimos a Deus todas as formas de nos trazer luz para a decisão. Foi a mais difícil de nossas vidas. Só nós (e quem já passou por isso) sabemos a dor no peito e a vontade de chorar a cada instante. Ainda dói, ainda lacrimeja, ainda sangra.

Mas, como forma de agradecer a ela todo o amor que ela nos ensinou e a forma de ver a vida, sempre com força e malandragem, procuramos dar a ela um pouco da alegria que sentimos ao lado dela. Foram instantes que a fizeram esquecer da tosse, da respiração ofegante, do caroço pesado, da dor.

Preparamos um hambúrguer caprichado, compramos espetinhos de frango e carne e demos bifinho de rodizio de picanha. Passou o dia sendo beijada, cheirada, bajulada. Tomou banho, fez cocô na clínica. Mesmo na insone noite que teve, não ficou um segundo sozinha.









Vamos digerir ainda o tanto que temos que aprender. Te amamos muito. Não esquece de nós!

A decisão


O último Carnaval está sendo (e será) inesquecível. Não pela farra com amigos, ladeiras de Olinda ou blocos do Recife Antigo. Será sempre lembrado com um misto de dor, tristeza e prova de amor.

Nossa Odara estava com um caroço na mama. Já havíamos passado por isso e conseguimos removê-lo porque era pequeno e, assim, foi possível contornar sem o uso de anestesia - que ela não aguentava devido à metástase no pulmão.

Levamos nossa miudinha sexta-feira à emergência. O caroço estava necrosado e sangrando. Ficou internada e no sábado cedo estávamos lá. Fez ultra, raio x e hemograma. Continuar com ele significava riscos de infecções. Além disso, ela estava se sentindo incomodada com o peso e o odor dele. Também estava doendo. Dava para ver nos olhinhos espremidos e tristes de Odara. Submetê-la à cirurgia também não era a melhor alternativa. A capacidade respiratória estava muito baixa, agravada pela propagação de tumores no pulmão. As chapas apontaram um monte dele. Também só agora descobrimos que Odara tinha um monte de bico de papagaio.

Não que isso tornasse a dor dela a maior. No entanto, na soma de doenças, ela estava com dor. Convivia com isso. E, de acordo com a médica, o corpinho dela aprendeu a conviver com isso. Temos noção do quão difícil deve ser se acostumar ao incômodo, a algo que machuca a todo instante?

Nunca foi nossa opção. Passamos quase dois anos procurando alternativas para deixar Odara mais tempo ao nosso lado. Fizemos bazar, vendemos bebidas, pedimos dinheiro. Aprendemos que o orgulho não cabia em nossa relação com Odara. "Mendigamos" mesmo. Conseguimos algumas ações em conjunto com pessoas ao nosso redor e também de outras partes do Brasil.

Trouxemos Odara para casa para pensar no destino dela. Na verdade, a questão envolvia amor demais, egoismo demais e muitas dúvidas. Clinicamente, os veterinários conversaram entre eles e nos colocaram todas as opções. Nenhuma que aliviasse a dor que estava sentindo. Mesmo tendo comprado todos os remédios necessários e fortes, ela permaneceu murcha no dia seguinte. A pata traseira esquerda começou a falhar. Odara estava com dificuldades para andar e deitar. A dor continuava bem forte.

Nossa angústia também.